Um 7 a 1: Depois de entregar pontos aos pobres, Piquetemidos rouba três dos ricos

Duas derrotas em duas partidas, contra equipes consideradas adversárias diretas na briga pelo terceiro e quarto postos do grupo e que não vinham tão credenciadas pelos resultados em suas participações. A partida seguinte marcada contra o atual tetracampeão e dono de um futebol copeiro, acostumado às decisões que as quadras lhe proporcionaram e, àquela altura, um dos líderes em aproveitamento de pontos da chuva. A chamada online para o certame apenas complicava-lhes mais os ânimos, dada o silêncio da maioria dos inscritos e poucas confirmações para o primeiro domingo de abril.

Há domingos de que não deve esperar muita coisa, pois, afinal, todos os astros conspiraram contra. Mas em outros… quando seus atletas chegam para o duelo, aparentemente perdido de véspera, deparam-se com uma luz que não se via no túnel. Faz-se a curva para a esquerda, compra-se o jornal na padaria, mas a mente não esquece que viu o maior reforço da manhã, da semana, parada na entrada da Tropical Academia conversando com seus contemporâneos e, creia-se, também seus veteranos. Sim, é experiente, mas é jovem ainda, e há gerações bem mais vividas que a dele no futebol csapiano.

A presença alentadora era a do craque Diego Vettori, aquele mesmo da elegância com a bola nos pés que inevitavelmente faz lembrar seu ídolo Ricardo Izecson Santos Leite, o Kaká. Ele, que não havia podido estar presente na derrota por 3 a 1 para o Black MaXIXes, não constava da relação de cinco assegurados para a 4ª rodada do Apertura 2014, a terceira da agremiação alviceleste. O mesmo atleta dono de cinco títulos do Csapão e de uma Copa Csap, artilheiro em mais de uma oportunidade e um dos condutores dos inesquecíveis XI de Setembro e XI com Álcool.

E o aproximar do meio-dia, hora marcada para o início do duelo entre Piquetemidos e 171, mostrava que ainda assim a vida não tinha nada para ser fácil, porque a mais antiga das duas equipes somente conseguira alinhar seis combatentes para uma batalha que era praticamente impossível se estivesse com seu regimento todo armado. Compunham e compuseram até o final dos quarenta minutos de cotejo, por esse lado, o arqueiro Carlos Antão, os defensores Diego Vettori, Fabrício Salum e Rodrigo Diniz, e os avantes Rafael Falce e Leonardo.

Do outro lado, uma baixa chamava a atenção de quem se preparava para a partida, seja para disputá-la, seja para assisti-la. Afinal, onde estaria o craque Nandinho? Nos últimos tempos não vinha sendo raro sua chegada após o apito inicial e sua entrada, em muitas ocasiões, como o Salvador Bucaneiro, que calçava seu par de chuteiras calmamente enquanto observava a frequência do jogo para se inserir nele e trocar de faixa. Mas, dessa vez, ele nunca chegou e soube-se que um compromisso na Pauliceia Desvairada o tirara dessa feita. Ele não estaria, mas à exceção de Rafael “Pel” Morais, todo o esquadrão que junto alçou-se à condição de hegemonia nas quadras do Minas Brasil estava lá para chegar aos nove pontos e dar mais um passo rumo à classificação. O 171 contava com o guarda-metas Mairon, o defensor Diego Mendes, os alas Tulin, Marcus Vinícius e Bruno “Mudin” Salles, e os pivôs Tiago “Chucky” e Matheus “Negão” Martins.

E para os Piquetemidos o que poderia servir de referência para buscar um lugar ao sol? Além do mencionado Vettori, talvez o fato de atuar na quadra 3, largamente utilizada na fase de ouro de seu principal jogador na época em que ganhou tudo no Csap. E o que poderia deixar a equipe ainda mais em dúvida? Como seria a atuação do “referee” que havia sido escalado para o cotejo, sua primeira em torneios da EG/FJP.

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De uma maneira que não se esperaria, mas talvez fosse de se esperar. Como? O debut não foi hegemônico para nenhum dos escretes e o que se via eram trocas de bola de lado a lado, utilizando-se os passes pelos lados da quadra e as trocas de posição entre os presentes. Por esse aspecto, surpreendeu que os “Bucaneiros” não tenham atropelado desde o primeiro minuto. Pela recordação dos embates dos Piquetemidos antes XXVIduzir e Black MaXIXes, especialmente nesse último encontro, não parecia uma completa novidade que eles não tenham saído afoitamente para abrir o marcador nem aberto seu sistema defensivo e proporcionado oportunidades para o adversário.

Foi assim por mais de dez minutos da etapa inicial e algumas características recorrentes em todo o certame estavam presentes desde então. Do lado do 171 era marcante que, após a saída de bola, apenas um atleta permanecia na defesa e a transição para o ataque produzia um desmonte em sua retaguarda. Da parte piquetemível notabilizava-se a defesa em halp-pipe, realizada quando três atletas da equipe voltavam em u à frente da área defendida por Carlos Antão para lhe proteger e roubar a bola oponente.

Mas o primeiro zero do placar saiu mesmo em uma jogada no ataque do Piquetemidos e que não teve nenhuma relação com esses dois aspectos aí citados. Em uma cobrança de escanteio, Leonardo recebeu na intermediária de ataque e, mesmo marcado de frente, encontrou espaço para finalizar dali, de perna esquerda, no canto esquerdo de Mairon para abrir o placar. Um ponto de interrogação surgia nas feições bucaneiras, afinal sua defesa não era afeita a sofrer tentos e, muito menos, a sair em desvantagem.

E o que isso mudaria no modo de ambos atuarem? A princípio, nada. Porque uma equipe gabaritada como o 171 não se viraria de cabeça para baixo com um revés mínimo e porque um escrete como o alviceleste sabia equilibrar as partidas e, nas duas disputadas anteriormente, se complicara por ter saído atrás no marcador, exatamente o inverso desta feita, mas conseguiu manter-se no jogo todo o tempo naquelas ocasiões. Nem as substituições de ambos os lados pareciam provocar alterações significativas, dada a consistência que ambas apresentavam.

Ah, mais cedo falava-se de Diego Vettori. Suas descidas em velocidade pelo lado direito do ataque começaram a desconcertar os tetracampeões, que não conseguiam superá-lo na corrida. Essas jogadas, no entanto, somente seriam valorizadas caso se efetivassem na ampliação da vantagem e, para isso, era necessário o bom rendimento de seus outros bons companheiros. E isso se concretizou ao final da primeira etapa, após um chute cruzado desse lado da quadra, parcialmente defendido pelo arqueiro Mairon, e que já do lado esquerdo do ataque foi aproveitado por Rafael Falce com um chute cruzado para vencê-lo e ampliar para 2 a 0.

No silvo final da etapa inicial podia-se perceber a tensão do lado do 171, pouco acostumada a essa situação, em razão principalmente de seu talento e ótimos resultados conseguidos nos últimos anos. Naquele momento, questionou-se, inclusive, os segundos decorridos no cronômetro do árbitro após a interrupção por ele assinalada para o atendimento ao ala Rodrigo Diniz, lesionado em uma disputa de bola com Matheus “Negão” Martins.

Também por isso a resenha do intervalo piquetemível girou em torno da importância de se ampliar o marcador na primeira oportunidade possível para colocar ainda mais pressão sobre o 171 e, com isso, controlar o dinamômetro do jogo.

Sem ciclotimia, uma vantagem que só cresce

Isso quer dizer o quê? Quer dizer que na segunda etapa, não houve altos e baixos e sim uma regularidade de ambas as partes, ainda que positiva de um lado e negativa, bastante negativa da outro. Talvez apenas nos primeiros minutos da segunda etapa o equilíbrio tenha sido mais evidente, mas a agudeza esteve sempre favorável aos Piquetemidos.

Para movimentar ainda mais a equipe, o 171 lançou mão de variações um pouco atípicas no posicionamento de seus componentes e Tiago era, muitas vezes, o último homem da defesa e responsável pelas saídas de bola, especialmente por seu bom passe e movimentação. Para isso, Marcus Vinícius se posicionava no fundo de quadra, mais aberto, para receber o passe e encontrar algum companheiro livre. Mas antes de conseguirem algum resultado mais contundente, os “Bucaneiros” sofreram mais um dissabor e a objetividade rival não deixava dúvidas. Em mais um ataque pela direita, Rodrigo Diniz desferiu um perfeito chute cruzado no canto direito de Mairon e cravou o 3 a 0 no placar. Um placar inacreditável para quem tivesse feito suas apostas antes da rodada.

Como administrar a vantagem? Essa era uma indagação dos alvicelestes e que não careciam de muitas divagações, era continuar como estavam. E assim o fizeram, mas não estavam livres de falhas e não poderiam desconsiderar o talento dos tetracampeões. Foi assim, portanto, que, numa tentativa de passe pelo lado esquerdo da defesa, Matheus “Negão” Martins roubou uma bola de Rafael Falce e conseguiu superar a cobertura de Fabrício Salum e a tentativa de defesa de Carlos Antão para diminuir o placar para 3 a 1.

Será que agora a pressão dos favoritos à vitória viria avassaladora? Não houve tempo para essa conjectura. Em escanteio cobrado pelo lado direito de seu ataque, Fabrício Salum, precisamente posicionado no outro canto avançado, fez o movimento perfeito para chutar reto e tirar quaisquer sombras do caminho. Um gol que ele perseguia há duas rodadas e que insistia em deter-se nas traves e travessões da Tropical, mas que aconteceu em momento agudo da partida. 4 a 1.

E aí, não restava muita coisa a se fazer que não arriscar e ir de vez pra cima em busca da diminuição da desvantagem. Mairon cedeu o lugar a Tulin no gol para que este atuasse como goleiro-linha e o 171 empurrasse o Piquetemidos para a defesa. Os ânimos se acirraram ainda mais quando Tiago “Chucky” e Marcus Vinícius discutiram a respeito do posicionamento para a troca de bolas no ataque e o último pediu para ser substituído e retirou-se de quadra.

A defesa halp-pipe voltou a funcionar, ainda que agora tivesse que se desdobrar para o lado direito da defesa, principal região das trocas de passes entre Diego Mendes e Tulin ou quem quer que articulasse com o arqueiro por aquelas bandas. Mesmo com a marcação menos forte do outro lado, não se conseguia transigir a marcação oponente.

E o contra-ataque tornou-se inevitável. E se funcionava do lado direito, isso também ocorria no outro flanco e de forma bem admirável. Rodrigo Diniz, atleta das quadras e das corridas de rua, aparecia de um lado e de outro e, pela esquerda, recebeu um passe e finalizou firme, forte, alto, sobre a cabeça de Tulin para fazer o quinto.

Não muito depois disso a marcação piquetemível mostrou-se implacável e, em uma tentativa de lançamento do guarda-metas bucaneiro, Vettori interceptou-a e encobriu-o. Vendo-o passar por trás do arqueiro, Leonardo avançou e, apenas para certificar que o tento se confirmaria, o avante chutou forte para anotar o sexto tento.

Mais uma vez, apareceu Vettori para iniciar os contra-ataques e contar com a explosão física, sim com o vigor de todos os que estavam em quadra, diferentemente do que sempre se comentava como uma das dificuldades da equipe. Para fazer o sétimo gol, ele mesmo avançou pela intermediária e tocou no canto direito de Tulin para marcar e encerrar a conta.

Piquetemidos recuperam alegria de jogar e vão em busca da classificação às quartas

Piquetemidos recuperam alegria de jogar e vão em busca da classificação às quartas

Uma nota de louvor se deve ao comportamento respeitoso entre as equipes durante toda a partida, mesmo que tenham existido as faltas e assinaladas pelo árbitro. Em nenhum momento, no entanto, apelou-se para a violência gratuita e despropositada.

Agora a 5ª rodada reserva outros duelos importantíssimos, o 171 definirá o primeiro lugar do grupo contra o XoXota às 11 horas do próximo domingo, 13 de abril, e os Piquetemidos encaram os Cracks da Bolsa, ao meio-dia (3ª partida no Apertura 14 nesse horário), no confronto que pode lhes colocar de novo em busca de uma vaga às quartas.

Escalações:

171: Mairon, Diego Mendes, Tulin, Marcus Vinícius e Tiago “Chucky”. Entraram: Matheus “Negão” Martins e Bruno “Mudin” Salles.

Piquetemidos: Carlos Antão, Diego Vettori, Fabrício Salum, Rafael Falce e Leonardo. Entrou: Rodrigo Diniz.

Gols:

171: Matheus “Negão” Martins.

Piquetemidos: Leonardo (2), Rafael Falce, Fabrício Salum, Rodrigo Diniz (2) e Diego Vettori.

Local: Tropical Academia (Avenida Ressaca, 360, Minas Brasil, Belo Horizonte/MG)

Horário: 12 horas

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